quarta-feira, 30 de junho de 2021

AS ILHAS QUE ATRAVESSARAM O MAR.

 

Seis anos após o inicio das pesquisas genealógicas e a compilação de dados para formar este Blog e iniciar meu livro, consolidou-se a complexidade do título deste trabalho. Não é “A ilha que atravessou o mar”, mas sim, “As ilhas que atravessaram o mar”. Sim, deveria ser no plural. Nas descobertas da genealogia das famílias CAPPAI e DUTRA fica latente o gosto da família pelo mar, porque a maioria dos ramos de nossa árvore genealógica saíram destas duas ilhas: da Sardenha e dos Açores. É por isto, com certeza, que nossas almas e aspirações mais profundas apontam para o mar...

           Saramago me faz pensar sobre as raízes, quando leio fragmentos reluzentes de seus escritos, quando diz: "É necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós, se não saímos de nós próprios". E o poeta conclui: "Somos todos ilhas desconhecidas". Para nossa família, esta "viagem filosofal" de Saramago, é mais que uma analogia, é uma questão geográfica literal e envolvente. Nosso DNA e nossas raízes históricas, das famílias CAPPAI e DUTRA, se remetem a duas ilhas. E, incontinenti e visceral, que toda nossa introspecção e saudades tenham raízes neste "não pertencimento" a esta terra, a uma extensão espiritual além mar, a uma alma imigrante e solitária. NOSSOS ANCESTRAIS DEIXARAM AS ILHAS, MAS NOSSO DNA E PENSAMENTOS MAIS PROFUNDOS CONTINUAM NAS ILHAS, GERAÇÃO APÓS GERAÇÃO DISTANTES DO PARAÍSO. Como descendente de segunda geração de imigrantes sardos e açorianos, sinto como "ilhas à deriva", desconhecidas e entremeadas pelo grande oceano da obscuridade histórica... 

Ao analisar a fecunda e fascinante história de nossa ancestralidade, concluo que nos demais ramos e membros da família, a maioria se convergiam para o arquipélado dos Açores, como as Ilhas Faial (Angústias e Horta), Lajes do Pico, Ilha de São Jorge, Ilha terceira (Angra do heroísmo), Ilha das Flores e, mais próxima do continente português, a Ilha da Madeira. Nove ilhas compõem o arquipélago de Açores, sendo de origem vulcânica e distribuídas num trecho de 1500 quilômetros do mar territorial português. O início da ocupação teve seu auge com Pedro de Portugal, 1.º Duque de Coimbra (1392-1449), regente na menoridade de Afonso V de Portugal. Estas ilhas portuguesas começam como vilas de pescadores, parada de embarcações e criações de animais. Atualmente são ilhas autônomas (não dependem do continente); como ocorre com nossa querida ilha da Sardenha, na Itália. 

A emigração açoriana iniciou precocemente por volta de 1550, com o forte apelo da colonização do Brasil, em especial a fundação da Bahia e, posteriormente, a ocupação do nordeste e sul do país; com a finalidade de impedir a invasão estrangeira no “novo mundo”. Motivos não faltaram para os açorianos e para Portugal, sejam sociais, econômicos ou ambientais; como a consciência do isolamento, a escassez de emprego, interesses de comerciantes, interesses do Estado, grande atividade vulcânica em 1630, os incêndios e terremotos que castigaram as ilhas no findar de 1729 e a “Crise dos cereais” por volta de 1780, entre outros. Na contrapartida, os contratantes no Brasil buscavam “gente honrada e de lavoura”, enquanto a maioria queria apenas fugir da miséria e os jovens “escaparem” do serviço militar nas ilhas.

           A imigração nos fez órfãos da memória cultural e histórica, de raízes nebulosas ao que se aplica ao conhecimento das origens. Somos gratos pelos bravos e destemidos ancestrais que deram suas vidas para existirmos neste território americano, mas infelizmente o coração é partido pela fraca memória do passado, brutalmente fragmentada pelo mar que nos separa. Literalmente, nos tornamos ilhas, sem que nunca as ilhas tenham saído de nós. Saudade das ilhas que nunca conheci, dos parentes diretos que nunca conheci, das conversas que não tivemos e das paisagens que não vi, mas persistem tudo e todos no vazio existencial, todo santo dia. Resta o orgulho de ser sardo e açoriano, sangue correndo nas veias deste imigrante trabalhador, ainda acontecendo, geração pós geração. 

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