quinta-feira, 2 de agosto de 2018

AS RAÍZES DA HISTÓRIA SARDA NO BRASIL

Da árvore genealógica dos "CAPPAI", da família dos sardos Giuseppe Cappai e Maria Annica Gessa, que veio no navio EQUITÁ (imigração tardia) em 28 de junho de 1897, estava meu nonno Raffaele Cappai e mais cinco irmãos:  Antônio, Maria, Salvatore, Filomena e Daniele

Poucas informações tenho de meus tios avós, exceto de Maria que faleceu no Asilo de Leopoldina e parte de Salvatore, cuja família reside em cidades serranas do Espírito Santo. Recentemente, contatos feitos a partir do "Blog", obtive algumas informações de Antônio e Daniele, através de seus netos; que também pesquisam e buscam a cidadania. Mas infelizmente, não há informações da composição de suas árvores genealógicas, paradeiros e fotos. Esta falta de informações e localização dos parentes sardos se estende sistematicamente para minha bisavó, de sobrenome GESSA. Não consegui rastrear nada deste sobrenome na zona da mata. 

Possivelmente, esta malograda imigração rara dos sardos, terminou com a pequena leva de imigrantes retornando para a ilha da Sardenha, por problemas de adaptação (poucos falavam o italiano). A própria história de Minas Gerais, com a queda da monocultura do café, forçou algumas famílias de sardos a mudarem para São Paulo, o sul do país e países vizinhos, onde a industrialização apelava por uma mão de obra diferenciada, descontextualizada da zona rural. Os imigrantes sardos ficaram ainda mais marginalizados, porque descendiam da cultura agrícola e do pastoreio. Na separação das famílias pela pressão econômica e adaptação ambiental, algumas ficaram no país por falta de opção, mas a maioria retornou para a Sardenha.

Encerrei animado o mês de julho 2018, com os contatos de Renato (SP) e Fabiano José (PR). O Renato Capai (com apenas um "p") é neto de Salvador Capai e bisneto de meu tio avô ANTÔNIO CAPPAI. O avô Salvador Capai casou com Anna Benedito Benedetti em 04/02/1928, em São Manoel (PR) e faleceu em 05/12/1990 em Maringá - PR. Seu bisavô ANTÔNIO CAPPAI casou com Amabile Maria Françoso e teve o Salvador com cerca de 28 anos. 

Outro tio avô que tive informações é DANIELLE CAPPAI, que no Brasil atendia pelo nome Daniel Capaz, foi casado com Maria José Diana, em 27/12/1919, em Palma - MG. Morreu em 19/04/1966, em Paiçandu, distrito de Água Boa, Paraná. É pai de Sebastião Rodrigues Capaz, que tem como filha Ilza Maciel de Oliveira, mãe de Fabiano José Pereira de Oliveira. O Fabiano que entrou em contato comigo através do "Blog". Outra história que passa a compor minhas pesquisas.

Estas duas histórias que conheci agora, só foi possível conhecer através dos contatos de Renato e Fabiano. Meus tios avós saíram da região da zona da mata mineira há muitos anos para o Paraná e as famílias perderam totalmente o contato. Assim também ocorreu com a família do tio avô SALVATORE CAPPAI, que no Brasil atendia pelo nome Salvador Capaz, cuja família reside toda no Estado do Espírito Santo. Uma parte da família de Salvatore corrigiu o sobrenome (de Capaz para Cappai) no Cartório Civil de Providência, também para fins de obter a cidadania italiana.

No meu livro "A ILHA QUE ATRAVESSOU O MAR", 220 páginas, relato todas minhas pesquisas jornalísticas a partir desta pequena família de sardos, dentro do contexto histórico, social e político, da rara imigração dos sardos para o Brasil. Este livro estará disponível em breve para aquisição aos interessados. Trata-se de uma obra "aberta", passível de reedições, considerando o ingresso de novas informações por parte dos arquivos pessoais de parentes e possíveis fontes históricas. É um tema bem escasso de fontes e documentos, mas muito cativante.

É importante anotar que, tão raro quanto a imigração, é o registro dos sardos no país; principalmente pela carência de informações e arquivos nas próprias famílias. O Brasil é um país que pouco investe na preservação de sua história. Foi predominantemente construído pelos braços de imigrantes, que entende o imigrante como um "ser sem história", que abandonou sua história em troca de outra. Agindo ainda assim, vejo um país sem identidade, com sérios problemas sociais e psiquiátricos. O DNA da grande maioria do seu povo, se reporta a raízes que, culturalmente e politicamente, foram forçadas à morte prematura. As famílias dos imigrantes foram separadas intencionalmente, devido ao medo do governo da época, destas se organizarem em rebeliões. Por lei, foram proibidas a não falarem seu idioma de origem, muito menos expressarem sua cultura. A punição era multa e cadeia, tratadas como marginais. Meu pai João Capaz de Oliveira, falecido no ano passado, ficou apavorado quando soube que eu buscava nossas raízes sardas e a cidadania italiana. Ele que nasceu em 1934, só expressou pavor de guerra e perseguições políticas ao saber de minha decisão. 

Assim, o autor do BLOG, como a segunda geração de sardos no Brasil, com DNA 100% europeu (Teste feito pelo My Heritage, nos EUA), não conheceu seus parentes, não teve contato com o idioma de seus ancestrais e, mesmo formado em jornalismo, teve muitas dificuldades em rastrear a história da imigração dos sardos. Mas eu carrego a persistência do Popolo sardo e a bravura de Shardana, aprendi a edificar resiliente meus Nuraghes de pedra, porque a isola paradiso está gravada PER SEMPRE em minha alma. O físico é brasiliano porque nasci nestas terras, mas minha alma e história é da Sardenha. Partirei deste mundo, com o espírito e identidade da Sardenha, como meus ancestrais. Estas são as minhas raízes, que reconstruo, preservo e me orgulho delas. E nesta busca diária, estou protegido por San Michele, patrono de Villasalto, a terra de meus ancestrais sardos.

Agradeço aos amigos e parentes que puderem me ajudar com informações e fotos da família "CAPPAI". 
A kENTANNOS!!!


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