quarta-feira, 30 de junho de 2021

AS ILHAS QUE ATRAVESSARAM O MAR.

 

Seis anos após o inicio das pesquisas genealógicas e a compilação de dados para formar este Blog e iniciar meu livro, consolidou-se a complexidade do título deste trabalho. Não é “A ilha que atravessou o mar”, mas sim, “As ilhas que atravessaram o mar”. Sim, deveria ser no plural. Nas descobertas da genealogia das famílias CAPPAI e DUTRA fica latente o gosto da família pelo mar, porque a maioria dos ramos de nossa árvore genealógica saíram destas duas ilhas: da Sardenha e dos Açores. É por isto, com certeza, que nossas almas e aspirações mais profundas apontam para o mar...

           Saramago me faz pensar sobre as raízes, quando leio fragmentos reluzentes de seus escritos, quando diz: "É necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós, se não saímos de nós próprios". E o poeta conclui: "Somos todos ilhas desconhecidas". Para nossa família, esta "viagem filosofal" de Saramago, é mais que uma analogia, é uma questão geográfica literal e envolvente. Nosso DNA e nossas raízes históricas, das famílias CAPPAI e DUTRA, se remetem a duas ilhas. E, incontinenti e visceral, que toda nossa introspecção e saudades tenham raízes neste "não pertencimento" a esta terra, a uma extensão espiritual além mar, a uma alma imigrante e solitária. NOSSOS ANCESTRAIS DEIXARAM AS ILHAS, MAS NOSSO DNA E PENSAMENTOS MAIS PROFUNDOS CONTINUAM NAS ILHAS, GERAÇÃO APÓS GERAÇÃO DISTANTES DO PARAÍSO. Como descendente de segunda geração de imigrantes sardos e açorianos, sinto como "ilhas à deriva", desconhecidas e entremeadas pelo grande oceano da obscuridade histórica... 

Ao analisar a fecunda e fascinante história de nossa ancestralidade, concluo que nos demais ramos e membros da família, a maioria se convergiam para o arquipélado dos Açores, como as Ilhas Faial (Angústias e Horta), Lajes do Pico, Ilha de São Jorge, Ilha terceira (Angra do heroísmo), Ilha das Flores e, mais próxima do continente português, a Ilha da Madeira. Nove ilhas compõem o arquipélago de Açores, sendo de origem vulcânica e distribuídas num trecho de 1500 quilômetros do mar territorial português. O início da ocupação teve seu auge com Pedro de Portugal, 1.º Duque de Coimbra (1392-1449), regente na menoridade de Afonso V de Portugal. Estas ilhas portuguesas começam como vilas de pescadores, parada de embarcações e criações de animais. Atualmente são ilhas autônomas (não dependem do continente); como ocorre com nossa querida ilha da Sardenha, na Itália. 

A emigração açoriana iniciou precocemente por volta de 1550, com o forte apelo da colonização do Brasil, em especial a fundação da Bahia e, posteriormente, a ocupação do nordeste e sul do país; com a finalidade de impedir a invasão estrangeira no “novo mundo”. Motivos não faltaram para os açorianos e para Portugal, sejam sociais, econômicos ou ambientais; como a consciência do isolamento, a escassez de emprego, interesses de comerciantes, interesses do Estado, grande atividade vulcânica em 1630, os incêndios e terremotos que castigaram as ilhas no findar de 1729 e a “Crise dos cereais” por volta de 1780, entre outros. Na contrapartida, os contratantes no Brasil buscavam “gente honrada e de lavoura”, enquanto a maioria queria apenas fugir da miséria e os jovens “escaparem” do serviço militar nas ilhas.

           A imigração nos fez órfãos da memória cultural e histórica, de raízes nebulosas ao que se aplica ao conhecimento das origens. Somos gratos pelos bravos e destemidos ancestrais que deram suas vidas para existirmos neste território americano, mas infelizmente o coração é partido pela fraca memória do passado, brutalmente fragmentada pelo mar que nos separa. Literalmente, nos tornamos ilhas, sem que nunca as ilhas tenham saído de nós. Saudade das ilhas que nunca conheci, dos parentes diretos que nunca conheci, das conversas que não tivemos e das paisagens que não vi, mas persistem tudo e todos no vazio existencial, todo santo dia. Resta o orgulho de ser sardo e açoriano, sangue correndo nas veias deste imigrante trabalhador, ainda acontecendo, geração pós geração. 

            SE QUER SABER MAIS SOBRE NOSSAS ORIGENS, LEIA MEU LIVRO "A ILHA QUE ATRAVESSOU O MAR".  Clique no ícone do livro nesta página e terá ele gratuito, imediatamente. Em breve, estarei disponibilizando a versão revisada.  Obrigado pelos leitores que entraram em contato e visitaram o Blog. 



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

EM BUSCA DO CASAL DE PIONEIROS SARDOS - Sepultados em Minas Gerais

 Não é uma tarefa fácil buscar os locais de sepultamentos dos nossos ancestrais, ainda mais passados mais de 100 anos. As certidões nos cartórios se reportam a livros antigos e mutilados pelo tempo e insetos, nem se falava em registro em computadores e impressoras, que são invenções bem mais recentes. Os erros de grafia e informações eram diversos e recorrentes, sem se importarem com fontes de consultas. Isto somava-se ao precário controle dos sepultamentos em covas mal identificadas, que são carcomidas pelo tempo, junto com os registros antigos nos cartórios. E mudando as administrações municipais, de tempos em tempos, com as reformas nos cemitérios (muitas vezes sem o acompanhamento da família), a localização do sepulcro depende da sorte e da persistência, assim como encontrar documentos confiáveis e elucidativos. 

E são muito raros os pesquisadores em genealogia, que se interessam pela documentação de forma acadêmica e séria, como a historiadora Nilza Cantoni, a qual tive o prazer de conversar por telefone. Esta pesquisadora desenvolveu um aprofundado estudo de minha arvore genealógica, sendo ela de Leopoldina (MG) e hoje residente em Petrópolis (RJ). E incentivado por sua vida de pesquisa, retornei com mais afinco a busca do casal pioneiro de nossa família sarda, esta rara imigração de uma "ilha" no mediterrâneo, que nos faz sentir tal qual no meio de um oceano de dúvidas...

Giuseppe Cappai (Também conhecido no Brasil como José Capaz), 45 anos, casado com Maria Annica Gessa, 35 anos (Também registrada nos documentos como Anna Gessa). Estas eram suas idades, quando chegaram no Brasil, em 28 de junho de 1897, na Hospedaria Horta Barbosa, de Juiz de Fora.

Na Certidão de Casamento de seu filho mais novo, meu avô, Raffaele Cappai (Também conhecido no Brasil por Rafael Capaz), em 10 de novembro de 1917, que casou com Izabel Carlos de Oliveira (Nesta Certidão, aparece como Izabel da Conceição), Giuseppe Cappai consta como domiciliado e residente no Distrito de Banco Verde da Comarca de Palma - MG e, nesta data, tinha a idade de 65 anos. Enquanto que "Anna Gessa", sua esposa e minha bisavó, havia falecido cinco anos antes, ou seja, em 1912, e sepultada no cemitério de Providência - MG. As distâncias destes distritos em relação a Leopoldina, variam de 30 a 52 km. E os erros não param nas Certidões antigas. Meu avô Raffaele, que tem a Certidão de Nascimento expedida em Villasalto, comune ao sul da ilha da Sardenha, Itália, tem erroneamente como local de nascimento a pequena cidade de Thebas, próximo a Leopoldina - MG. Realizei nesta e em outras Certidões da família, retificações judiciais, saneando os equívocos e erros.

E foi no Distrito de Providência que se deu o casamento de outro filho de Giuseppe, o Salvatore Cappai (Também conhecido no Brasil, como Salvador Capaz), com a italiana Ersília Pedrini. Isto se comprova com o pedido de retificação que também foi feita por seus descendentes de Boa Esperança (ES). Giuseppe Cappai, recém viúvo, estava em Providência no dia do casamento de Salvatore naquele dia de 19 de julho de 1913. Salvatore deu entrada novamente numa Hospedaria de Imigrantes em 1938, conforme registro no Arquivo Público do Espírito Santo. "Salvador Capaz" tinha 50 anos e estava só, aponta este registro. E, fazendo as contas, se o pioneiro Giuseppe Cappai estivesse junto, estaria com 86 anos. Talvez não tivesse forças para mudar para o Espírito Santo, para locais mais distantes como Nova Venécia, Vila Pavão, Castelo; para onde foram seus outros filhos Antônio e Daniele. 

E uma foto antiga de Daniele Cappai (Também conhecido no Brasil, como Daniel Capaz), a única que tenho e fornecida gentilmente por primos no Espírito Santo, a foto está cortada bem em cima de Giuseppe Cappai, deixando-o com meia face, e está ao lado deste filho e de seus dois netos menores. Possivelmente, quando Daniele estava ainda na zona da mata mineira, antes de se mudar para o norte do Espírito Santo ou em visita ao pai. E minhas suspeitas retornam para Palmas - MG. Será que no ano seguinte ao falecimento da esposa em Providência, o pioneiro mudou com o filho para esta cidade?  Quem sabe foi Daniel que tomou conta do pai no final da vida, antes de ir para Nova Venécia (ES) e posteriormente para Paiçandu, Maringá, Paraná, onde faleceu em 20 de Abril de 1966? Se assim for, minhas pesquisas em busca do meu bisavô pioneiro devem concentrar-se entre os anos de 1917 a 1938, num intervalo de 21 anos.

Outra intuição que tenho a respeito da permanência de Giuseppe Cappai na zona da mata mineira, além deste ponto citado, é sobre a dificuldade de viagens longas e cansativas em 1917, de um Estado para outro (com distâncias que excedem 400 Km), para o bisavô viúvo e com 65 anos. Será que o destemido pioneiro ainda tinha saúde para andanças. E os filhos já estavam casados e famílias formadas ou trabalhando distantes. 

Pela movimentação dos seis filhos de Giuseppe Cappai e Maria Annica Gessa, após 1913, tenho o seguinte roteiro:  Antônio e Salvatore (Nova Venécia - ES), Maria (Abaíba - MG), Daniele (Paicandú, Maringá, Paraná), Raffaele (meu avô em Leopoldina - MG) e Filomena (Sem informações). Aos poucos, num ritmo bem lento e processual, vou conhecendo os primos, descendentes de meus tios avós. 

É dificil conquistar terreno e confiança, com um abismo histórico e de não convivência e delimitados por barreiras geográficas de Estado (E mais ainda, pelo imenso mar até nossas origens diretas na ilha da Sardenha). E, gracas a Deus, temos ferramentas como Whatsaap, Facebook e outros aplicativos de celulares, que ajudam no reencontro dos caminhos. Hoje, temos primos que buscam a cidadania, outros paulatinamente curiosos, os desinteressados e aqueles movidos pela emoção e reverencia à ancestralidade. Eu me encaixo neste ultimo grupo, como o primo Glaycon Araújo (ES), com o qual tenho tido mais contato. 

Minha meta, desde 2016 quando iniciei as pesquisas, tem sido encontrar os sepulcros de meus bisavós, recuperar o túmulo pessoalmente e colocar uma lápide de identificação neles. Esta rara e parcialmente desastrosa imigração dos sardos, merece uma lápide com o famoso "SARDO PER SEMPRE", onde estiverem. Mesmo distantes, espacialmente e temporalmente (em dimensões diferentes), de nossos queridos parentes e de nossa ilha de origem, carregamos estas raízes fortes no coração e na alma. Nada apaga, nem a morte há de nos separar, até o retorno final a Villasalto. A pesquisa continua...

GRAZIE A DIO. 

SIAMO SARDI.



Peço a todos os parentes (aqui no Brasil e na ilha da Sardenha) que possuem arquivos de fotos antigas da família, sabendo o quão difícil são guardá-las e os efeitos irremediáveis do tempo sobre estes frágeis registros, que enviem fotos para a pesquisa da família. Em especial, de GIUSEPPE CAPPAI e MARIA ANNICA GESSA, naturais de Villasalto, Sardenha, pois gostaria muito de ter o registro visual destes pioneiros ancestrais. Sem eles, nada seria possível. Não existiríamos.  GRAZIE.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

SAUDADES SIM, TRISTEZA NÃO!!!

 DIA DE FINADOS.

 Hoje é dia de rezar e ter gratidão pelos ancestrais que partiram e deixaram saudades. Não deve ser um dia de tristeza, mas de muita gratidão por nossas raízes, amigos e colegas que compartilharam momentos em nossa existência. Somos resultados destas experiências e contatos, formando uma grande família espiritual. Temos fé e crença firme de que a vida não encerra neste mundo material, pelo contrário, prossegue no além, em outras dimensões e planos. 

Com a alma de IMIGRANTES, assim como nossos antepassados atravessaram o grande oceano por uma nova vida no passado, o que possibilitou toda nossa história e existência no presente, todos nós, VIVENTES OU SOBREVIVENTES, também faremos a ultima viagem de nossas vidas. Até que este reencontro aconteça, elevamos até eles nossos pensamentos por todos seus esforços, exitosos ou não, pela família e todos seus sucessores. Que Deus ilumine e abençoe todas as almas. 


GRATIDÃO  -  BENÇÃOS  -  PERDÃO  -  PAZ

A KENTANNOS.


sexta-feira, 3 de abril de 2020

CORONA VIRUS - Quarentena necessária


FIQUEM EM CASA!
RESPEITEM A QUARENTENA E A VIDA DOS IDOSOS DE SUA FAMÍLIA.

PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE, TEMOS UM VÍRUS QUE VEM LITERALMENTE COMO "QUEIMA DE ARQUIVO". ELIMINA INSANO A MEMÓRIA VIVA DE NOSSOS ANCESTRAIS, REPRESENTADA PELOS IDOSOS QUE NÃO RESISTEM A ESTE GRANDE MAL QUE ATINGE NOSSAS FAMÍLIAS. 


É PRECISO PRESERVAR.

CADA IDOSO QUE ENTERRAMOS, LEVA CONSIGO PARTE IMPORTANTE DAS HISTÓRIAS FAMILIARES. APROVEITE O TEMPO EM FAMÍLIA, CONVERSE COM SEUS IDOSOS, ANOTE INFORMAÇÕES E CASOS, VEJA FOTOS QUE ELE GUARDA, REPASSE AOS SEUS PARENTES. 

A HISTÓRIA DE SUA FAMÍLIA E DE SEUS ANTEPASSADOS NÃO PODEM SER ELIMINADAS POR UM VÍRUS. É UMA NEGLIGÊNCIA QUE PODE SER COBRADA POR SEUS NETOS E BISNETOS. PODE CUSTAR LÁGRIMAS, ALGUM DIA, EM QUEM PROCURA POR INFORMAÇÕES... APROVEITE SEU TEMPO EM FAMÍLIA E CONVERSE COM OS IDOSOS, ESCUTE E REGISTRE SUA HISTÓRIA. DÊ ATENÇÃO E CARINHO A SEUS ANTEPASSADOS... OU PODERÁ SER TARDE DEMAIS...

RESPEITE A QUARENTENA E A SAÚDE DE SUA FAMÍLIA.
QUE DEUS ILUMINE A TODOS.
QUE SÃO MIGUEL ARCANJO, PATRONO DE VILLASALTO, PROTETOR DOS IMIGRANTES SARDOS, PROTEJA A TODOS.




domingo, 2 de fevereiro de 2020

UM NAVIO DE IMIGRANTES COM ENIGMÁTICA HISTÓRIA.


"A chegada do vapor Equitá está registrada na edição do jornal “Diário Oficial – Minas Geraes”, de 29 de Junho de 1897, terça-feira, entre os passageiros estavam meus ancestrais sardos, com os seguintes dizeres: “IMMIGRAÇÃO: Segundo communicação telegráphica da agencia fiscal do Rio de Janeiro, a 27 do corrente, chegou áquele porto o vapor “Equitá” trazendo 443 immigrantes para este Estado, os quaes no mesmo dia vieram para a hospedaria de Juiz de Fóra”.

Deste navio Equitá eu localizei apenas dois registros de viagens com emigrantes para Minas Gerais, entre os anos de 1894 a 1901. Este vapor, com peso de 3.369 toneladas, com 100 metros de comprimento e 13 de largura, foi construído em 1885 pela empresa inglesa Palmers Cia Ltda. “Possuia uma máquina a vapor de expansão tripla, uma única hélice, uma chaminé e dois mastros, atingindo 12 nós de velocidade. Foi lançado com o nome Knight of St. John e tornou-se Equitá em 1902, sendo usado na rota Genova-Nápoles-Nova Iorque. Em 1908 foi nomeado Chile e em 1912 passou para Lloyd of Pacific Line. Foi minado e afundado no canal de Cerico, na Grécia, em 26 de Outubro de 1921.” Nos registros da Hemeroteca Digital brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional, constatei que a embarcação mantinha frequente publicidade no jornal “Correio de Minas” de Juiz de Fora, no período de 1894 a 1904, por 24 edições deste jornal. Esta publicidade atingia todas as províncias produtoras de café. As informações sobre a embarcação são poucas e imprecisas, deixando incerto se foi afundada intencionalmente ou se chocou com uma mina. Os registros históricos apontam também que o nome Equitá já era usado desde 1897. A foto mais expressiva de um navio com emigrantes, próxima ao ano de entrada do bisnonno Giuseppe Cappai no Brasil é de dez anos após, desembarcando em 1907 no Porto de Santos (SP). Dá para se ter ideia do tamanho da empreitada e do peso de tantos sonhos, navegando pelo Atlântico."

TRECHO DO LIVRO  "A ilha que atravessou o mar", disponível gratuitamente em PDF neste Blog.

Foto do návio Equitá, que trouxe meus ancestrais sardos para Minas Gerais.


QUANDO OS RAROS SARDOS CHEGARAM...


"1897. O ano teve início e término numa sexta-feira. O Brasil vivia os primeiros tempos da República e a moeda corrente no país era “Réis”. Nascia Pixinguinha (compositor), Humberto Mauro (cineasta), Di Cavalcanti (pintor), Castello Branco (29º Presidente do Brasil), Papa Paulo VI (263º Papa), Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, entre outros. Fundava-se a Academia Brasileira de Letras. Minas Gerais transferia a capital do Estado de Ouro Preto para Belo Horizonte. Inaugurava-se a nova capital mineira. Guglielmo Marconi, inventor italiano, fazia a primeira transmissão de rádio. Inaugurava-se a primeira linha submarina de telégrafo no Brasil e os primeiros bondes elétricos de Salvador (BA). Terminava a primeira epidemia de febre amarela em São Simão (São Paulo). Thomas Edison requeria a patente do “kinetoscopio”, o primeiro projetor de cinema. Produzia-se no Brasil o primeiro “curta-metragem”, a expedição polar de S. A. Andrée. Euclides da Cunha cobria a Guerra de Canudos, narrado em “Os Sertões”. Morria o beato Antonio Conselheiro, o líder dos revoltosos de Canudos. Joseph John Thomson media a carga específica do elétron. E chegava à Hospedaria Horta Barbosa, em Santo Antonio do Parahybuna (atual Juiz de Fora, em Minas Gerais), a maior leva de imigrantes europeus, a maioria italiana, para atender a mão de obra cafeeira em Minas Gerais. Entre eles, meus ancestrais sardos.

A viagem da Europa para o porto de Santos era muito precária. No caso de meus ancestrais sardos, eles partiram do porto de Cagliari (capital da ilha) para o Porto de Gênova, e de lá vieram para o Rio de Janeiro. Os emigrantes vinham na terceira classe, nos porões dos navios. Havia superlotação, a comida era ruim e não havia assistência médica. Nestas condições, no período das imigrações, alguns morriam durante a viagem, que durava até 46 dias. Meus ancestrais sardos, naturais de Villasalto, chegaram ao Porto de Santos, no vapor EQUITÁ. Deram entrada na Hospedaria dos Imigrantes Horta Barbosa em Juiz de Fora na data de 28 de junho de 1897. Saíram da hospedaria no dia 4 de julho de 1897 e partiram de trem para a Fazenda Bela Vista do contratante sr. Antônio Belizandro dos Reis Meireles, localizada no então distrito de Rio Pardo, hoje o município de Argirita (Arquivo Público Mineiro - APM, Microfilme Rolo 4, Arquivo F, Gaveta 1, em Belo Horizonte/MG). A família do bisnonno Giuseppe ficou uma semana na hospedaria até que fossem liberados para seu destino; tempo normal de permanência, o que indica que chegaram e saíram saudáveis na empreitada."

TRECHO DO LIVRO "A ilha que atravessou o mar".
Livro em formato PDF e disponível gratuitamente neste Blog.
Buona ricerca!



A GENEALOGIA DOS MEUS ANCESTRAIS SARDOS



Por erro ou opção, a família CAPPAI passa a adotar no início da década de 1910 o sobrenome CAPAZ. Nos documentos históricos e das famílias, ora surge um ou outro sobrenome correto nos imigrantes, mas na primeira geração de descendentes nascidos no Brasil, definitivamente assumem o sobrenome CAPAZ. E isto ocorreu nos Estados de MG, RJ e ES. A imigração trouxe marcas profundas na família, que estão melhor descritas no livro “A ILHA QUE ATRAVESSOU O MAR”, deste autor, e está disponível gratuitamente neste Blog.

Minha família Cappai tem origem em Villasalto, no sul da Sardenha, região de Cagliari. Uma pequena cidade na montanha com 1.351 habitantes, que tem como origens históricas uma vila feudal. A família Cappai possuía este feudo, que cobria as terras de Villasalto/Muravera. E a genealogia sarda registra o sobrenome Cappai no ano de 1255 nesta pequena vila feudal e, mais tarde, o título de nobreza da família, intitulado “Cavaleiro hereditário e nobre sardo” no ano de 1667.

Repasso aos meus leitores as últimas pesquisas, a relação dos nossos antepassados e dos que chegaram na zona da mata mineira, Brasil, no ano de 1897, pela hospedaria Horta Barbosa de Juiz de Fora – MG, que trabalharam inicialmente em propriedades na região de Leopoldina/MG. São eles:

ANTÔNIO CAPPAI
Meu trisavô paterno nasceu por volta de 1829. Morreu em 28 de outubro de 1883. Casou com MARIANNA AGUS, nascida e falecida em datas desconhecidas. Tiveram três filhos: MARIANNA, SALVATORE FRANCESCO e GIUSEPPE. Viveram e faleceram em Villasalto, Sardenha. Ainda não tenho registro de quem seriam os pais de Antônio Cappai, meus tetravós paternos. Giuseppe Cappai é meu bisavô, filho de Antonio, que veio para o Brasil em 1897, trazendo a esposa e seis filhos pequenos.

RAIMONDO GESSA
Meu trisavô materno nasceu por volta de 1815 em Villasalto, Cagliari, Ilha da Sardenha. Faleceu em Villasalto em 21/06/1875. Filho de LUIGI GESSA e ROSA CAPPAI, meus tetravós ou “tataravós” maternos. Casou com BÁRBARA CONGIU (1829 - 14/10/1899), filha de GIOVANNI CONGIU e MARIA CAPPAI, meus tetravós ou “tataravós” maternos. Tiveram duas filhas: MASSIMA GESSA (1860-1917) e MARIA ANNICA GESSA (1852-1912), esta última é minha bisavó materna.


GIUSEPPE CAPPAI
Meu bisavô nasceu em 1º de junho de 1852, em Villasalto, Cagliari, Ilha da Sardenha. Filho de Antônio Cappai e Marianna Agus. Há registros que acrescentam “Michele” ou “Agus” no sobrenome, mas na Certidão de Casamento não consta. Casou em 29 de Dezembro de 1883, 6:40hs, com MARIA ANNICA GESSA (1852 – 1912). Tiveram seis filhos: ANTÔNIO, MARIA, SALVATORE, FILOMENA, DANIELE e RAFFAELE. Este último é o caçula da família e meu “nonno”. Imigrou para Leopoldina, MG, Brasil em 28 de junho de 1897, com 45 anos. Migrou com três dos filhos para o Espírito Santo, Brasil, em 1913. Foi enterrado em local, até agora desconhecido. Conforme apurado no Livro da Hospedaria Horta Barbosa JF (Arquivo Público MineiroAPM), Livro AS-920, Pág.:145.


MARIA ANNICA GESSA
Minha bisavó nasceu em 6 de Abril de 1862, em Villasalto, Cagliari, Ilha da Sardenha. Filha de Raimondo e Bárbara. Casou em 29 de dezembro de 1883, 6:40hs, com GIUSEPPE CAPPAI. Tiveram seis filhos: ANTÔNIO, MARIA, SALVATORE, FILOMENA, DANIELE e RAFFAELE. Imigrou para Leopoldina, MG, Brasil em 28 de junho de 1897, com 35 anos. Faleceu em 1912, com 49 anos, e foi enterrada em Providência, MG, Brasil. Conforme apurado no Livro da Hospedaria Horta Barbosa JF (Arquivo Público Mineiro – APM), Livro AS-920, Pág.:145.

O casal de sardos Giuseppe Cappai e Maria Annica Gessa deu entrada na Hospedaria Horta Barbosa no dia 28 de junho de 1897, acompanhado de seis filhos. Saíram no dia 4 de julho de 1897 para trabalhar na Fazenda Bela Vista, de propriedade do cafeicultor Antonio Belizandro dos Reis Meireles, localizada no então distrito de Rio Pardo, hoje município de Argirita, zona da Mata Mineira. Entre os filhos, estava meu nonno Raffaele Cappai.

Meu pai, João Capaz de Oliveira, filho de Raffaele Cappai, tinha o apelido de "Tonico", em homenagem a seu bisavô sardo, pai de Giuseppe, que ficou na Sardenha. 


Foto recuperada, de meu bisavô sardo, Giuseppe Cappai. Imigrante e não naturalizado, 
enterrado em algum município do Espírito Santo.

Foto de meu avô sardo, Raffaele Cappai. Imigrante e não naturalizado, 
enterrado em Leopoldina, MG.

Foto de meu pai, João Capaz de Oliveira, primeira geração de descendentes sardos no Brasil. Enterrado em Leopoldina, MG.


O Autor da obra "A ILHA QUE ATRAVESSOU O MAR", José Capaz Dutra Cappai, agradece a todas as visitas em seu Blog e aos incentivos à pesquisa genealógica. Grazie mille a tutti.