Meu pai JOÃO CAPAZ DE OLIVEIRA, 83 anos, filho de Raffaele Cappai (mio nonno sardo), faleceu recentemente no dia 09 de maio de 2017, às 13:44hs, em Juiz de Fora - MG, sendo sepultado no dia 10 de maio, às 14:00hs no Cemitério de Leopoldina. A causa da morte foi uma parada cardíaca, mas meu pai já sofria com o Alzheimer há alguns anos, que agravou com o Parkinson.
Foi enterrado no mesmo túmulo do meu avô, unindo duas gerações, a do sardo não naturalizado e a de meu pai, a primeira geração de sardos nascida no Brasil. Há exatamente 120 anos, os ancestrais de minha família entraram no país para trabalhar na lavoura de café de Antônio Belizandro dos Reis Meireles, no antigo Distrito do Rio Pardo, atual Argirita, próximo a Leopoldina, zona da Mata Mineira.
Enquanto viajava em cortejo fúnebre, olhei as montanhas do antigo “Distrito do Rio Pardo” (Argirita), já não possui pés de cafés balançando ao vento, mas pastagens secas e matas monocromáticas. Imigrantes são “coisas” do passado, esquecidos e enterrados. Os cafezais alimentados pelo sangue e suor destes imigrantes não existem mais. Enquanto acompanhávamos de carro a pequena Van com a urna funerária de meu pai, de Juiz de Fora para o cemitério em Leopoldina, refletia sobre a noite anterior. A chegada dos três filhos na noite fria na pequena sala do velório no Cemitério Municipal, onde o corpo de meu pai estava só, revelou a fragilidade das famílias pequenas, a solidão dos poucos abraços, história dispersa da imigração recente, os desencontros sem cura, a alma conformada e dilacerada... Sentimentos de ontem e hoje, tão semelhantes e resilientes. E brotada na fragilidade desta hora ocada, revigora a saudade de uma terra que não conhecemos. Enquanto os coveiros empurravam o caixão para dentro da gaveta do túmulo de Raffaele, unimos as duas gerações “pai e filho”, consagrando de fato duas terras distantes, separadas pelo grande mar. Rezei para que o espírito de meu pai buscasse abrigo no paraíso sardo, guiado na proteção de São Miguel Arcanjo, Patrono de Villasalto, na ilha da Sardenha. Estou convicto que seremos atendidos...
O sardo mineiro que não dispensava salaminhos, carne de porco e torresmo... Precisa falar mais!!!
A evolução do sardo mineiro, que foi funcionário exemplar no DER - Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais, onde fez muitos amigos.
A religiosidade e a fé sempre acompanhou meu pai. Um homem rigoroso consigo mesmo e enérgico em suas ações, inabalável em suas convicções, mas movido por generosidade com as pessoas. Ouvia desconfiado as histórias, mas portava-se como autêntico descendente do popolo de Shardana em terras mineiras.
Durante os estudos de genealogia, quando pesquisávamos os rumos de nossos ancestrais sardos em documentos nos cartórios, passamos pelo Cemitério de Leopoldina em 11//03/2013, no túmulo do "mio nonno" Raffaele Cappai. Meu pai observava os erros de grafia na Placa do túmulo, quando o fotografei. Pouco mais de quatro anos depois, retornamos para ocupar o lugar próximo ao pai; unindo as duas gerações e os dois países. Certamente, encontraram-se no Paraíso sardo...
Meus sentimentos,e meu tio teve uma historia muito bonita em vida,me orgulho de fazer parte dessa arvore. fico emocionada só de ler como foi surgido a família capaz no Brasil.
ResponderExcluirMuito obrigado pelas condolências. Da história da Família, pretendo publicar o Livro "A ILHA QUE ATRAVESSOU O MAR." este ano. Nele estarão a origem da família na ilha da Sardenha e os poucos casais que entraram no país, por Minas Gerais e os poucos remanescentes desta rara imigração que aqui permaneceu. Deus permitiu que aqui estivéssemos para contribuir com este país e assim tem sido. Agradeço muito pelo contato. Obrigado.
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