quinta-feira, 27 de abril de 2017

Crônicas do Sardo Mineiro

UMA ANALOGIA INEVITÁVEL
                                      Imigração na atualidade.

A rede virtual se assemelha ao mundo real, mesclam fragmentos históricos, armazena e veicula percepções de tal forma que funde com a própria realidade. O “ouro verde” do século XIX agora é substituído pelo ouro moderno, a tão disputada informação. Muitos pretendem “fazer a América” neste ambiente novo. Mas é preciso saber “navegar”, atravessar o grande “oceano” que agora distingue os indivíduos conectados daqueles não conectados. Vivemos uma nova “monocultura”, que se mescla perigosamente ao mundo real globalizado. Nasce uma cultura planificada, sem fronteiras e, intencionalmente, com poucas regras. Tornamos, assim como nossos ancestrais imigrantes em Minas, internautas. Um novo “laboratório de gentes” se formou; agora em patamares e consequências inimagináveis.

Os rastros “imigratórios”, aqui e acolá, são “aparentemente” deletados, mas uma lista de desejos e de indesejáveis já se formou. O sistema sabe tudo de você, porque investiu para que estivesse com você. Mapearam seu “Stato di famiglia”. Agem como uma “Superintendência de Imigração”, coordenando, selecionando e registrando fluxos de ideias e mentes. Formou hospedarias, colônias e grupos. Alimenta as diferenças, se mostra solícito a todos, tudo a título da liberdade de expressão. O “ouro moderno” movimenta nossas vidas cotidianas, bancos, bolsa de valores, mercado de ações, nações, opiniões, com forte apelo motivacional. A moderna oligarquia mundial, com gigantesco poder de transformação, manipula este mundo virtual. Isto será sempre negado. É uma rede de “malha fina”, onde nada passa despercebido.

No ambiente virtual, a sensação é a de “ser imigrante”, ainda que não percebida ou admitida, a identidade “roubada”. A teoria do sardo Gramsci, com os conceitos de “hegemonia cultural”, é perfeita na definição desta “terra virtual”. O exemplo é bem atual. A oligarquia não se vale da violência para governar, mas sim de ferramentas culturais e ideológicas, que constroem o consentimento geral. A “hipnotização” dos internautas ocorre como no passado da colonização de Minas, sedução e falsa propaganda, que lhe rouba o tempo e os sonhos. Nas ruas, os “imigrantes” de hoje digitam avidamente seus celulares. São milhares de conectados, quase incomunicáveis no mundo real. A ordem é navegar. O celular, como as antigas ferramentas agrícolas, é indispensável ao pretenso moderno, ao entrosamento e ao posicionamento social. A ideia é sugerir um território “livre”, sem fronteiras. Nele é permitido entrar e sair a qualquer hora. Não se iluda, estamos num ambiente hipermonitorado. Maquinas praticamente “pensam” e registram os menores movimentos. Tudo é traduzido em estatísticas, tornando previsíveis os comportamentos, gostos e tendências. Subliminarmente, dia a dia, ocorre a desconstrução do indivíduo e das famílias.


Este internauta é conduzido à superficialidade, indivíduo sem fronteiras e sem raízes, um receptáculo de emoções dúbias, um mero prisioneiro, sem identidade. Nada difere daquele imigrante real do passado, que sequer deixou documentos ou foi sepultado como indigente. Muitas nações estarão em perigo entre os dois mundos, como reflexo de benesses e maldições em tempo real. A educação virtual é arrebatadora como uma onda, subtendida, informal e superficial. Quanto maior a extensão deste saber virtual, de rápido consumo, menor a visão em profundidade do seu ávido consumidor. E a navegação não pode parar; é frequentemente medida e comemorada por sua oligarquia. Nos consultórios médicos já chegam os primeiros náufragos doentes, “viciados” na navegação, são indivíduos sem fronteira e sem identidade. E mais uma vez, os imigrantes estarão abandonados e doentes nesta terra artificial, fazendo parte das novas estatísticas...


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