terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Palavras à "Donna" italiana; a "moglie" de nossas vidas.

QUAL O SENTIDO QUE TEMOS DE NÓS MESMOS???

Provar que somos homens valentes?
Somos fortes e inabaláveis, como defensores da “ilha paraíso”?
De que somos bravos até o ultimo momento, no bom estilo que “italiano que é bom, morre de pé”? Que homem, mesmo agredido, não chora? E quantas foram as agressões em toda a imigração... Que as perdas devem ser contidas por fortes muros de pedra, para impedir novos invasores, como centenas de nuraghes por toda vida? Será que resistirão até o ultimo instante? Quem sabe inconscientemente seremos um sardo sempre armado, à espera de sua caça ou guardando o rebanho? Até onde permaneceremos tão rudes.

Penso hoje que somos um pouco de tudo isto, mas não teríamos humanidade, se não fossem as mulheres em nossas vidas. Este é o maior teste que Deus deu ao homem, a de ter uma companheira em nossas jornadas. EU PODERIA ANDAR PELO VALE DA MORTE, mas se tenho a companheira ao lado, tenho coragem para enfrentar. Lembre que na “louca” decisão de Giuseppe, o sardo, tinha a Maria Annica para atravessar um grande mar e tempos difíceis. E assim se deu várias vezes depois com outras famílias de nossas origens, em outras Cidades e Estados: Abaíba, Providência, Leopoldina, Nova Venecia, Boa Esperança, Castelo, Cariacica, Cachoeiro do Itapemerim, Vitória, Rio de Janeiro, entre outras.

Que reverência estaremos dando às nossas matriarcas, quantas Marias, sem as quais não existiríamos? Que respeito e gentileza estamos dando à mãe de nossos filhos?
Que homens teríamos tornado se não fossem as mulheres? Seríamos perversos? Seríamos animais? Estaríamos perdidos para sempre? Este ponto é importante nas nossas vidas, saber conviver com as mulheres. Porque, se elas são simbolicamente parte de nós, a ponto da Bíblia citar que saiu de uma das nossas costelas, interessa A Quem as criou que cuidemos bem delas. Isto é fato. E esta é nossa prova final. Não podemos perder a paciência, a ponto de rebaixar e depreciar a maior obra de Deus. É pelo interior das mulheres que o milagre da vida se propaga.

Voltamos a nosso exemplo. Giuseppe poderia vir só, tentar a vida na América. Muitos vieram, até clandestinos e morreram sem nunca terem retornado. Eu não teria existido, nem meu pai, muito menos nossas famílias. Mas Giuseppe veio e trouxe Maria, e trouxe sua família. Sabe por que? Porque o maior santuário de um sardo autentico é sua família. E a “madonna”, mãe de Jesus, está personificada na mãe, que é o esteio da família. Giuseppe, pai de Raffaele, não veio só, porque era uma família, como nós. Podemos não concordar, mas é preciso respeitar. E pela concordância e respeito, José e Maria (tradução em português) vieram para o Brasil.

E esta tem sido “minha bíblia”, a história dentro da história familiar. Passo todos os dias, buscando conhecer o rosto de meu bisavô Giuseppe e bisavó Maria Annica, uma missão de vida e de total reverência a nossos ancestrais. Imagine a situação: Giuseppe teve uma visão de que deveria pegar a família e seguir outros para uma tal América. Rezou e Deus deu-lhes força para convencer Maria, porque acreditava que a crise no seu país iria massacrar a todos. MAS SE GIUSEPPE fosse temeroso de viajar e renitente como meu pai João Capaz. É simples, não existiríamos aqui para conversar sobre genealogia. E graças à Maria Annica, esta grande mulher e minha bisavó, que aceitou a empreitada da imigração, trouxe no colo o meu pequeno avô Raffaele. Assim a vida germinou em terras brasileiras...

Os sardos são um povo com milhares de anos. A raiz de nosso sobrenome Cappai aponta para o judaísmo na Sardenha, com origens bíblicas, naquele povo que caminhou pelo deserto (Gabbaj) na tribo de Benjamim. Isto pode confirmar que somos de origens rudes, muito antigas e estamos procurando pela terra prometida há muitas e muitas centenas de anos. Não podemos ficar perdidos tanto tempo assim. Já estamos conscientes demais de nossos papeis, por isto, procuro refazer e entender a história familiar. É preciso buscar meios de unir a família, num grande encontro de gerações, esta é a missão...

Consegui reestabelecer parte do elo da corrente, rompida pelo tempo, mas a pesquisa continua. A leitura desta história precisa avançar e ser repassada aos nossos descendentes. Em algum tempo ou lugar, terá outro José ou Maria, meus descendentes, para trilhar estes caminhos. Não posso ficar surdo e mudo diante da história, porque sinto uma obrigação visceral pela pesquisa da história familiar. Em tudo que fazemos, SOMOS DEUS EM AÇÃO, porque fomos criados à sua imagem. Negar a história é negar a própria identidade.


Passei a bendizer tudo que me aconteceu, agradeço a vida que levo, o passado que tive e a vida que poderei ter futuramente. A criação de Deus está no ar que respiro, na água que me serve, no barulho do riacho, nas nuvens, no sorriso, no semblante do próximo, na palavra amiga, na gentileza, na vivência do mundo, no etéreo, na espiritualidade e na crença de uma nova etapa na vida. Alguns viajam de bicicleta, outros de moto, de ônibus, de carro de luxo ou de avião, seja de qualquer forma, mas todos chegarão lá. Alguns fazem caminhos tortos e complicam, demoram, mas chegam também lá. Serão negros, brancos ou amarelos; podem ser drogados, prostitutas ou ladrões, mas chegarão lá. Lembro-me que Jesus perdoou dois ladrões, crucificados a seu lado, para dizer que não podemos ser preconceituosos, não jogar pedras. Muito da nossa história familiar ficou para sempre perdida, por conta de preconceitos, como na maioria da história das famílias. É importante perdoar o passado e construir uma nova história. A austeridade já fez muitas vítimas e distanciou pessoas. É preciso ser paciente e tolerante com nós mesmos. Este é meu entendimento pessoal de ser Cristão. 

Saudações à todas as mulheres da família e a meus ancestrais sardos, imigrantes e corajosos. Amém. 

Um passeio de carro pela Cordilheira dos Andes, além da fronteira, em 2012.

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