RITUAL
NO ALÉM-MAR...
José Capaz – 25/01/2014
Ao mar, sonhos perdidos numa terra que fica,
Desparecendo atrás das vagas ao som do vapor,
Inclemente, determinado, algoz e repleto de vida
mecânica.
Sonhos em turbilhão, espremidos numa “pátria” ambulante.
Aos filhos dos sonhos, a colheita certa da terra
perdida,
Aos filhos dos sonhos, a promessa da colheita farta e
certa.
Oh! América, que dos véus brancos nos remetem a seus
frutos, o café,
Seus “Nuraghes” são como torres verdes, desdobrando
serras,
E suas pedras de divisas sulcam fronteiras entre homens
e lavouras,
Em grande extensão de terras e lutas...
O canto da harmônica veio da nave até a serra “di mio lavoro”,
Regurgita velhos pensares no acalento de uma nova
alegria,
Candura e vaga lembrança, levada ao vento como a
primavera.
E quando acordar deste tempo, sem dores lombares, sem
anseios,
Estarei, não de volta à nave e nem ao passado da Ilha
Perdida,
Mas estarei impregnado na semente, no solo e no ar desta
terra,
Imigrante sardo, enterrado em terras distantes, filho
suado e cansado,
Agricultor, amante, pai, escultor, carpinteiro, pedreiro
e espírito.
E de tudo que foi e partiu, a história se mistura a tantas
outras,
História de fole, acordeon de poesia e contos, do ir e
vir, repetir;
Constrói, destrói, refaz, anima e repensa esta pátria bendita.
Além-Mar, Além-Terra, Além-Vida,
Ninguém há de morrer em vão nesta Terra de todos,
O trabalho é uma vida, completa outro, uma simbiose sem
fim,
Imigrante nascemos, quando aqui aportamos,
Imigrante seremos, quando daqui aportamos.
E esta grande nave, errante no espaço de ondas, segue um
rumo,
No instante em que quatro mouros nos observam:
A família que nos acompanha,
O pensamento e suas estações passageiras,
A fé em dias melhores e
O vazio de estar em uma terra distante.
E, diante deste “mistério nurágico”, se perpetua o rito
à ancestralidade,
Não há documentos; apenas a dispersa, intrigante e tênue
história...
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