quarta-feira, 1 de abril de 2015

Uma doença maledita no pós-imigração

O TAB – Transtorno Afetivo Bipolar é hereditário na família Cappai. Estudos e pesquisas recentes, feitas por mim e que fazem parte de meu livro, concluem que o "TAB" pode ter levado a família a abandonar a ilha da Sardenha em 1897; os sintomas pós-imigração se repetiram ao alterar o sobrenome da família de Cappai para Capaz (um sobrenome não italiano, muito menos sardo); os efeitos se repetiram novamente com a separação da família entre dois Estados brasileiros na década de 20 (MG e ES) e meu pai João Capaz repetiu o padrão na década de 50 entre dois Estados novamente (MG e RJ).

Analisando este estresse e padrão comportamental, objeto de decisões emotivas muito fortes, a família encontra-se hoje praticamente desagregada entre estes três Estados (MG, ES e RJ). Cabe a este jornalista, bisneto de Giuseppe, o sardo, juntar os fragmentos do passado e de seus ancestrais e montar este quebra cabeça familiar, talvez para sempre sem uma resposta definitiva.

Em primeiro lugar, meu pai sempre acreditou que seu “sobrenome italiano” era Capaz, assim foi comigo por quase 50 anos de minha vida. Pensávamos que só existia nossa família no país, assim viveu a família de seis pessoas isoladas dos outros membros familiares por quase noventa anos em Leopoldina - MG e, muito provavelmente, tenha acontecido com outros núcleos familiares mais distantes. Isto é comprovado, com o registro no Arquivo Público Mineiro, com sede em Belo Horizonte, arquivo que registra a entrada dos imigrantes sardos no Brasil, onde temos mais quatro famílias Cappai além da família do meu bisnonno Giuseppe, que são as famílias de Francesco, Lucífero, Marcellino e Gregório. Não sabemos o grau de parentesco deste enigma sardo e muito menos onde estarão atualmente estas famílias. Mas o fato de ter alterado o sobrenome, não sabemos os motivos, tenha sido uma ruptura traumática e, no mínimo, uma decisão que iria repercutir para sempre na psique da própria família de Giuseppe. 

Um segundo estresse familiar, não menos impactante, é a decisão do meu bisnonno sardo Giuseppe de mudar com parte dos filhos de Minas Gerais para o Espírito Santo, cinco anos após a morte e sepultamento de sua esposa Maria Annica Gessa em Providência, distrito de Leopoldina, MG. Normalmente, dramas muito fortes e que abalam a estrutura familiar tende a unir mais os seus, como forma de reafirmar os votos de família. Isto não ocorreu, mas pode ser interpretado como compromisso do bisavô em deixar seus filhos não casados com melhores perspectivas em outras terras e/ou mais próximos dos parentes e amigos que vieram, e que estariam no Espírito Santo, mas sua decisão foi falha. A nova geração esqueceu do passado e não buscou perguntas e nem respostas, assim o tempo se encarregou de enterrar informações e documentos essenciais ao enigma.

O terceiro estresse familiar ocorre com meu pai João Capaz, primeira geração de sardos no Brasil, possivelmente repetindo o padrão comportamental de bisnonno Giuseppe, abandonaria três dos seus irmãos no Rio de Janeiro. A decisão de mudar de Leopoldina para o Rio de Janeiro viria de seus irmãos Sebastião, Délia e Aparecida e a decisão de não visita-los pelo resto de suas vidas viria de meu pai, o caçula dos irmãos e filho de Raffaele Cappai (Nome no Brasil: Rafael Capaz). O motivo do meu pai sempre foi o preconceito, o estereótipo abominante do “malandro carioca” e da violência no Rio de Janeiro. Meu pai repetiu um padrão comportamental, no inconsciente familiar, desapegando totalmente do que é mais forte neste elo, o abandono do vínculo e das raízes. Fechou-se neste "terceiro ato", a total desagregação da família de Giuseppe, sardos imigrantes que vieram para o Brasil em 1897.

No que refere à separação dramática da Sardenha, minha intuição pede para que não a associe a uma negação, porque espiritualmente sinto saudades fortes da Sardenha que não conheci e meus ancestrais que vieram não se naturalizaram brasileiros; o que me faz crer que tenho em meu inconsciente o amor que tinham por sua terra natal – Villasalto, bem protegida por seu patrono São Miguel Arcanjo. E, no fundo da minha alma, um grito se ergue para que eu retorne à ilha...
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* Estes apontamentos são uma pequena parte de meu livro, que busca remontar a história da família de Giuseppe Cappai (No Brasil, José Capaz) que veio da Sardenha em 1897. Busca embasamentos na pesquisa genealógica, na medicina moderna e na análise antropológica do fenômeno da grande imigração.

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