domingo, 4 de janeiro de 2015

Palavras ao meu pai sardo-mineiro - Parte II



ACALMA ESTE CORAÇÃO VALENTE, DE DESCENDENTE SARDO, MEU PAI.

Uma origem distante, das terras milenares da Sardenha, uma veia além-mar.
O gosto por ferramentas, o lavrar da madeira e o erigir sistemático de obras reais e fantasiosas.
Sulcado na alma a ferro e fogo, a valentia e o sonho de espíritos inquietos, sem fronteiras.
Rude nas origens do “popolo sardo”, homem do campo, construtor e semeador.
Errante protetor da família, solitário e resistente criador de ovelhas, afastando lobos e fantasmas. Incompreendido em sua forma bruta, como animal enjaulado e solto em terras estranhas.

Giuseppe Cappai, um homem da ilha que enfrentou o mar, simplesmente José. Maria Annica, uma mulher forte com seis filhos, que seguiu seu marido, simplesmente Maria. O casal José e Maria, nomes de nossa origem, apontam nossa fé e destino comum.

Na leitura desta raiz comum está nossa existência e nosso fim, a reflexão da própria vida. José e Maria pensavam retornar à ilha, mas morreram sardos em terras brasileiras. Seus filhos dispersos lutaram para atenuar a maior apunhada ao homem do mediterrâneo. A perda do elo familiar, cuja base é Maria, falecida cinco anos antes do casamento de Raffaele. E por falar em Raffaele, nome de anjo; o padroeiro de Villasalto é Arcanjo Miguel, nosso protetor.

São estas histórias que encouraçam nossos corpos na batalha, como cristãos nesta terra.Somos uma igreja viva, regida pela esperança e o descanso em uma terra prometida. Nossa história não tem pedras erigidas, nem cadeados e grilhões, é a face da liberdade e do sonho.

Giuseppe e Maria, Raffaele e seus irmãos, passaram. Assim como nós, voltaremos a terra.

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