Faz mais de dez anos que estudo a genealogia da família Cappai e a rara imigração dos sardos para o Brasil. Sou jornalista formado, com especialização em Historiografia. Muitas descobertas e curiosidades neste período de estudo, que envolve consulta a banco de dados do governo, de entidades específicas, documentos de famílias, cruzamentos de informações a partir de entrevistas, aquisições e leituras de livros e teses sobre a imigração e interpretação dos dados coletados, que culminaram no Livro "A Ilha que atravessou o mar". O livro foi registrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro na época e ficou disponibilizado gratuitamente por anos no BLOG. Neste momento, estou trabalhando no final da revisão da segunda edição, que ainda passará pela revisão de texto e, posteriormente, irá para a Editora. A obra está mais aprofundada na pesquisa. A intenção é colocar o livro em três versões: a primeira em português somente texto para plataformas específicas, a segunda uma edição exclusiva com fotos coletadas durante os trabalhos e a terceira uma edição em italiano.
Peço desculpas pela dificuldade em responder a perguntas. Moro no alto da serra da Maniqueira no sul de Minas Gerais, um pouco distante da cidade e com dificuldades de conexão. Faço contatos e respondo à medida do possível. Dúvidas tem surgido em relação ao sobrenome, possivelmente alguns leitores não conseguiram baixar o livro PDF na sua primeira edição. Retirei do Blog, porque a versão ficou desatualizada. È preciso um pouco de paciência, porque em breve a segunda edição estará disponível a todos. Nas postagens do BLOG é possivel verificar uma sequência cronológica e temática das pesquisas de nossa genealogia.
O sobrenome da família não é CAPAZ, tratando este de origem árabe e não italiana. A maioria dos sobrenomes italianos terminam com "i" no final. O sobrenome de nossos ancestrais é CAPPAI. Era muito comum os erros de nomes e sobrenomes, nas Certidões daquela época. O registro precário e manual, muitas vezes por funcionários públicos sem preparo, se dava em meio à correria das contratações urgentes para as lavouras de café. Os documentos que atestam nossa origem são: a ficha cadastral dos imigrantes na Hospedaria Horta Barbosa de Juiz de Fora, que hoje está arquivada e disponível no Arquivo Público Mineiro - APM em BH; o Registro dos Imigrantes que na época era feito pelas Delegacias de Polícia e, por fim, as Certidões de Nascimento e Casamento que adquiri no Comune Italiano, que no caso é na Sardenha. Também adquiri o Brasão e Histórico da Família, na Heráldica da Espanha.
Estimo que este erro de grafia no sobrenome tenha ocorrido por volta de 1905. Assim o nome de nosso bisavô pioneiro, que deveria ser Giuseppe Cappai (Agus), se transformou no Brasil em José Capaz. Sua esposa Maria Annica Gessa, falecida em 1912 em Providência, zona da mata mineira, também teve algumas versões de seu nome nos documentos. Atualmente aguardo por confirmações sobre o local de sepultamento do bisnonno Giuseppe que acredito estar em Palma. Para quem estuda genealogia, toda espera é um misto de agonia e expectativa. Devemos nossa existência a este casal pioneiro, que teve coragem e ousadia em trazer seis filhos numa viagem incerta por 36 dias em navio a vapor, em mar aberto e superlotado, com riscos de doenças e naufrágio. Após uma década de pesquisa, além da produção do livro, meu objetivo maior é localizar os túmulos dos bisavós, pioneiros na rara imigração da Sardenha para o Brasil, executar reparos se necessário e instalar uma placa em homenagem a eles.
No meu entendimento, todo descendente deve estudar suas origens e reverenciar seus ancestrais. Somos frutos de várias histórias de famílias, acertadas ou desajustadas, que construíram a base de nossa sociedade. Nos bancos das escolas, estudamos a História das Civilizações, a História do Brasil, a História das Revoluções Sociais, a História da Arte e outras tantas, mas reparem que pouquíssimas escolas incentivam o estudo da História Familiar, as nossas raízes. É facil entender que um indivíduo sem história familiar é um ser fragmentado, sem pertencimento e vulnerável; susceptível às promessas de qualquer um ou fácil de ser enganado. Não é por acaso, que nos Estados totalitários e manipuladores, o primeiro alvo é a família; porque o Estado passa a assumir o papel do "pai provedor", que alimenta ilusões e falsas esperanças nas crianças e adolescentes. Por um futuro melhor, ainda desejo ver nas escolas brasileiras, na grade curricular, a genealogia como incentivo ao estudo da história familiar.
"O QUE LEMBRO, TENHO".
Guimarães Rosa
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